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Hoje o FBSs traz a primeira de uma série de coletâneas temáticas. E para começar abriremos com o tema: Gastronomia.
A coletânea ilustra sonoramente o ótimo texto feito pelo Mestre, gastrólogo,sertanejo de Paulo Afonso e forrozeiro, o proff. Hernany Donato, que fala sobre os temperos, sabores e aromas da gastronomia Nordestina do interior ao litoral, sempre relacionando a comida e seus temperos com a música e os ritmos que compõem esse forrobodó.
O
tempero do forró
[i]Hernany Donato
A dimensão continental
atribuída ao Brasil acaba dificultando uma maior afirmação e reconhecimento das
mais diferentes regiões, que se entrelaçam umas às outras formando a tão
propagada, nos últimos anos, identidade nacional. A exemplo de sua riqueza, a
cultura nordestina traz consigo o casamento da herança gentil com outros
troncos culturais bem distintos. É fato, que a presença cultural do medievo
europeu, o qual impôs sua beligerância a tribos africanas se perfaz aqui
facilmente nos falares, nos ritos, nas danças, nos brinquedos populares e como
não poderíamos deixar de citar: a alimentação. Afinal de contas todos aqueles
que falam, bebem, dançam, brincam e vivem, comem!
Conduzido por uma via imaginária de comunicação
que se estende pelo fluxo entre o sertão e o litoral, o nordeste se divide
entre aquele que traz a esperança da fartura das redes de pesca e seu oposto,
aquele que visivelmente é a ausência de toda e qualquer política pública, a
qual trouxesse algum benefício para homem do campo. O ambiente hostil e áspero
destinado ao sertão nordestino ao longo de toda historiografia e mídia
nacionais acabou por esconder a riqueza, os saberes e os fazeres encontrados
nessa região.
A etimologia da palavra sertão reforça cronologicamente a
tendência ao degredo e a uma depreciação que nos parece histórica. Assim, o
significado da palavra “sertão”, no Dicionário Aurélio, corresponde a:
1.Região
agreste, distante das povoações ou terras cultivadas. 2. Terreno coberto de
mato, longe do litoral. 3. Interior pouco povoado. 4. Bras. Zona pouco povoada
do interior do país, em especial do interior semi-árido da parte
norte-ocidental, mais seca do que a caatinga, onde a criação de gado prevalece
sobre a agricultura, e onde perduram tradições e costumes antigos. (...).
(FERREIRA: 1975, p.1293)
Foi no Nordeste
brasileiro que a cultura oral aproveitou os traços locais e a instabilidade da
natureza sertaneja para povoar o imaginário poético. Seja na fartura do ciclo
junino, que nos revela a riqueza do milho, seja nos meses de estiagem, o
nordestino transcreve saberes e sabores a partir do ritmo do forró. Pela
complexidade do prato, a buchada é uma das iguarias muito bem faladas no
repertório do forró por vários cantores e, também está representada
gastronomicamente como uma preparação compartilhada na ocasião de festas e
datas importantes.
Seguindo o que os traços históricos nos
apontam para nosso Brasil colônia não podemos deixar de exaltar a cachaça, a
cana, a branquinha, a “marvada” tão bem representada na voz de Luiz Gonzaga,
“cana só de Pernambuco” e a partir da destreza vocálica de Jackson do Pandeiro
exímio apreciador da iguaria.
Não
obstante, a gastronomia sempre esteve ligada ao forró não somente por uma
questão fisiológica, mas sobretudo foi do “tingue-lingue” do triângulo dos
vendedores de cavaco-chinês, que Luiz Gonzaga achou nas ruas do Recife, aquele
timbre que completaria a formação clássica do terno (trio) de forró tão exaltado
em tempos de modernidade, inclusive, na descoberta destes temperos pela
juventude.
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