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domingo, 20 de setembro de 2015

O Tempero Do Forró - Coletânea.

 

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  Hoje o FBSs traz a primeira de uma série de coletâneas temáticas. E para começar abriremos com o tema: Gastronomia.
  A coletânea ilustra sonoramente o ótimo texto feito pelo Mestre, gastrólogo,sertanejo de Paulo Afonso e forrozeiro, o proff. Hernany Donato, que fala sobre os temperos, sabores e aromas da gastronomia Nordestina do interior ao litoral, sempre relacionando a comida e seus temperos com a música e os ritmos que compõem esse forrobodó.




O tempero do forró


[i]Hernany Donato

A dimensão continental atribuída ao Brasil acaba dificultando uma maior afirmação e reconhecimento das mais diferentes regiões, que se entrelaçam umas às outras formando a tão propagada, nos últimos anos, identidade nacional. A exemplo de sua riqueza, a cultura nordestina traz consigo o casamento da herança gentil com outros troncos culturais bem distintos. É fato, que a presença cultural do medievo europeu, o qual impôs sua beligerância a tribos africanas se perfaz aqui facilmente nos falares, nos ritos, nas danças, nos brinquedos populares e como não poderíamos deixar de citar: a alimentação. Afinal de contas todos aqueles que falam, bebem, dançam, brincam e vivem, comem!
     Conduzido por uma via imaginária de comunicação que se estende pelo fluxo entre o sertão e o litoral, o nordeste se divide entre aquele que traz a esperança da fartura das redes de pesca e seu oposto, aquele que visivelmente é a ausência de toda e qualquer política pública, a qual trouxesse algum benefício para homem do campo. O ambiente hostil e áspero destinado ao sertão nordestino ao longo de toda historiografia e mídia nacionais acabou por esconder a riqueza, os saberes e os fazeres encontrados nessa região.
     A etimologia da palavra sertão reforça cronologicamente a tendência ao degredo e a uma depreciação que nos parece histórica. Assim, o significado da palavra “sertão”, no Dicionário Aurélio, corresponde a:
1.Região agreste, distante das povoações ou terras cultivadas. 2. Terreno coberto de mato, longe do litoral. 3. Interior pouco povoado. 4. Bras. Zona pouco povoada do interior do país, em especial do interior semi-árido da parte norte-ocidental, mais seca do que a caatinga, onde a criação de gado prevalece sobre a agricultura, e onde perduram tradições e costumes antigos. (...). (FERREIRA: 1975, p.1293)
       Foi no Nordeste brasileiro que a cultura oral aproveitou os traços locais e a instabilidade da natureza sertaneja para povoar o imaginário poético. Seja na fartura do ciclo junino, que nos revela a riqueza do milho, seja nos meses de estiagem, o nordestino transcreve saberes e sabores a partir do ritmo do forró. Pela complexidade do prato, a buchada é uma das iguarias muito bem faladas no repertório do forró por vários cantores e, também está representada gastronomicamente como uma preparação compartilhada na ocasião de festas e datas importantes.
      Seguindo o que os traços históricos nos apontam para nosso Brasil colônia não podemos deixar de exaltar a cachaça, a cana, a branquinha, a “marvada” tão bem representada na voz de Luiz Gonzaga, “cana só de Pernambuco” e a partir da destreza vocálica de Jackson do Pandeiro exímio apreciador da iguaria.
      Não obstante, a gastronomia sempre esteve ligada ao forró não somente por uma questão fisiológica, mas sobretudo foi do “tingue-lingue” do triângulo dos vendedores de cavaco-chinês, que Luiz Gonzaga achou nas ruas do Recife, aquele timbre que completaria a formação clássica do terno (trio) de forró tão exaltado em tempos de modernidade, inclusive, na descoberta destes temperos pela juventude.





[i] É Mestre em Letras pela Universidade Federal de Sergipe-UFS, gastrólogo e professor do ensino superior.



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